terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Metamorfosear




Uma força quente faz-se abandonar
e um sentimento gélido,
- sensação morna e de tão calma,

apavorantemente fria -

se torna fato : sou abrigo de mil palhaços.

Desvairados, debochados dançarinos;

os verá , se ver o brilho de meus olhos.

Eles me falam , em mim e por mim,

enquanto eu me deixo ir sem nada dizer.

Raro , se não se vê palhaços

estou então de joelhos.

Na maioria dos sóis.

Na maioria das luas..

Me ponho de pé para o espetáculo da vida.

Mas quando, não menos que de repente,

tropeço entre os palcos do coração , me arrasto.

Arrasto .

R a s t e j o .

Meus olhos pretos e pretos sem palhaços.

Meus joelhos vermelhos e vermelhos de sangue,

esfolados.

Um pressentimento: nada mudará,

ainda.


Iara Moura

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Devaneio

Flagrada, atônita,
em meio aos pensamentos  que voam pela órbita de meu sistema nervoso,
dei-me conta do quanto nada sei.
Pegando carona na próxima chuva,
o barulho latejante de cada gota
ensinaria, fatalmente,
a dor de ser o que é.
Sem fome alguma percebo que uma maçã cortada ao meio
vale mais que do pão uma meia fatia.
Você ao meio dia:
Meu almoço.
Mas claro; não me satisfaria.
Tenho sede de cor. Tenho sede de alma. 
Depois de provado o azul claro do céu, o êxtase vem quando se bebe 
o amor negro da tempestade.
Não há ânimo, nem cansaço,
só uma paralisia de sentidos 
durante um estado enigmático  
que já se perdurou por toda uma vida;
não há entendimento algum entre as contas de física
e meu raciocínio do universo.
Fisicamente sou mesmo assim;
magra a ponto de me descair por entre a brecha da porta e o chão,
e me libertar.
Alguém já percebeu o quanto há,
entre um ser gentil, viril,
de força humana,
e o luar?


Iara Moura

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mulheres são de Vênus





Em um planeta aonde as horas
escorrem por entre os ponteiros,
os minutos se apressam em meio aos segundos,
que escapam rápido por entre os números -
lá está ela. 
Sem alvoroços
ou estampas de sorrisos
ao longo do vestido.
E falta relógio no tempo
que descompassa em seu peito;
a indecisão se instala no âmago interior,
ao passo que o corpo se esvai. 
Desejo de ir e não voltar.
Desejo de ter para onde ir
 e de se esquecer como voltar.

 
Não adianta fugir .
É impossível fugir ..
de si mesmo. 


Iara Moura